Construção de comunidades: Unir e não dividir
Cas Mudde – um académico proeminente no estudo do populismo – sugere que o núcleo ideológico do populismo é a rejeição do pluralismo, que é a base da democracia liberal (Mudde e Kaltwasser, 2019). De acordo com Mudde, as ideologias populistas separam a sociedade em dois grupos distintos: o “povo puro” e a “elite corrupta”, ao mesmo tempo que prosperam na perceção de que o poder político está fora de contacto com as preocupações e interesses dos cidadãos comuns. Neste sentido, de acordo com Mudde (2018), os populistas afirmam representar o “povo real”, que é homogéneo e unido nas suas crenças, enquanto que, de acordo com este, a “elite corrupta” é apresentada como estando fora de contacto com o povo e sendo responsável por todos os problemas da sociedade (Brubaker, 2017).
Imagem de OpenClipart-Vectors do Pixabay
Este entendimento restritivo de “o povo” é visto como uma ameaça principal aos ideais vitais da ideologia pluralista, que valoriza a diversidade, a tolerância e a inclusão de diferentes perspetivas no processo democrático (Galston, 2018).
O valor do pluralismob
![](https://we-europeans.eu/wp-content/uploads/2023/07/56560-500x300.jpg)
O pluralismo distingue o facto de a sociedade ser constituída por numerosos e diversos grupos e interesses e de a democracia exigir um processo de negociação e compromisso entre esses grupos para se chegar a decisões que sejam benéficas para todos. A rejeição do pluralismo pelo populismo mina este processo e promove um ambiente de divisão e intolerância. Especificamente, a definição de “povo” por parte deste populismo excludente pode ter inúmeras consequências. Tornou-se evidente que os líderes populistas fazem frequentemente de bode expiatório os grupos minoritários, incluindo os imigrantes e outras comunidades marginalizadas, culpando-os pelos problemas das sociedades contemporâneas e ameaçando assim os seus direitos e segurança (Merkel et al., 2019).
Para além disso, os movimentos populistas também têm tendência para desafiar as instituições democráticas. Assim, torna-se evidente que a rejeição do pluralismo é uma caraterística definidora do populismo que representa uma ameaça para os valores do pluralismo democrático (Mudde, 2004).
Uma visão inclusiva como resposta
![](https://we-europeans.eu/wp-content/uploads/2023/07/community-building_2-500x300.jpg)
Mudde (2018) sugere que, para que os partidos políticos tradicionais combatam o populismo, é importante que ofereçam uma visão inclusiva que responda às necessidades contemporâneas de todos os cidadãos. Isto levanta a necessidade de os partidos políticos tradicionais desenvolverem procedimentos que dêem prioridade à justiça económica e social, ao mesmo tempo que acariciam as preocupações das comunidades marginalizadas. Além disso, isto indica que os partidos políticos devem promover uma mensagem de unidade e de valores partilhados, a fim de contrariar a retórica divisiva e o bode expiatório das minorias que os populistas utilizam frequentemente.
Do mesmo modo, Mudde e Kaltwaser (2019) destacam a importância de desenvolver coligações com outros actores políticos, incluindo organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Desta forma, podem oferecer uma frente unida contra as políticas de divisão e exclusão do populismo (Lironi et al., 2021). Neste sentido, de acordo com Mudde, contrariar o apelo do populismo requer o desenvolvimento de uma visão política inclusiva e a implementação de políticas que sejam benéficas para todos os cidadãos. Isto sublinha a necessidade de dar prioridade à justiça económica e social, evitando a retórica divisiva e o bode expiatório, e construindo coligações e alianças com outros actores políticos (Greven, 2016).
O poder da criação de comunidades
![](https://we-europeans.eu/wp-content/uploads/2023/07/community-building_3-1.jpg)
Uma parte essencial da luta contra a divisão e a polarização causadas pelo populismo é a construção de comunidades. Especificamente, ao promover um sentido de unidade e um objetivo partilhado, é possível desenvolver uma comunidade resiliente, assente em valores democráticos e mais bem equipada para resistir ao apelo dos movimentos populistas. O desenvolvimento desta comunidade pode ser alcançado através da promoção de ideologias de unidade, o que pode acontecer através das seguintes práticas (Greven, 2016; Lironi et al, 2021; Lee e Johnstone, 2021; Pease, 2020):
- Práticas que incentivam o diálogo e a compreensão mútua: O populismo prospera frequentemente com base em estereótipos e simplificações excessivas de questões complexas. Incentivar o diálogo e a compreensão mútua entre pessoas de diferentes origens pode ajudar a eliminar estas barreiras e a criar um sentido de objetivo comum.
- Através da promoção da inclusão social:Os movimentos populistas visam e atraem frequentemente pessoas que se sentem “excluídas” pela sociedade. Promover a inclusão social e garantir que todos se sintam incluídos pode ajudar a reduzir o apelo das narrativas populistas.
- Através da “construção de pontes” entre comunidades diversas:Os movimentos populistas procuram frequentemente dividir as pessoas segundo linhas étnicas, religiosas ou culturais. A construção de pontes entre as comunidades e a promoção da compreensão intercultural podem ajudar a contrariar essas divisões.
- Através do desenvolvimento de um sentido de responsabilidade partilhada: Os movimentos populistas adoptam frequentemente um sentimento de vitimização. A promoção de um sentido de responsabilidade partilhada para enfrentar os desafios da sociedade pode ajudar a contrariar esta narrativa e a promover um sentido de unidade.
- Através do incentivo ao empenhamento cívico: Os movimentos populistas procuram frequentemente minar as instituições e normas democráticas. Incentivar o empenhamento e a participação cívica pode ajudar a reforçar estas instituições e a promover um sentimento de apropriação partilhada do processo democrático.
Comunique e discuta as suas preocupações relativamente ao populismo e identifique formas de o combater em conjunto.